“CARTAS DO MODERNISMO”
Clique para Ampliar a Imagem
Clique para Ampliar a Imagem
Clique para Ampliar a Imagem
Clique para Ampliar a Imagem
Clique para Ampliar a Imagem
Clique para Ampliar a Imagem
Evento
MÁRIO DE ANDRADE – CARTAS DO MODERNISMO
O Museu Correios apresenta de 30 de outubro de 2014 a 4 de janeiro de 2015, a exposição Mário de Andrade – Cartas do Modernismo, com curadoria de Denise Mattar e cenografia de Guilherme Isnard.
A exposição traça o desenvolvimento do Modernismo através das cartas de Mário de Andrade, tema especialmente adequado ao Museu Nacional dos Correios.
A correspondência de Mario de Andrade é reconhecida por seu expressivo volume e pela qualidade dos interlocutores envolvidos. Os mais importantes poetas, escritores, músicos, teóricos e artistas desse período trocavam cartas com ele. O estudo delas revela o ideário modernista do autor, que se constitui como tema central da exposição, mas apresenta também o lado humano das pessoas envolvidas, suas dores, amores, brigas, disputas, picuinhas e brincadeiras.
A mostra reúne cartas, imagens, fotos e textos traçando um panorama da implantação e expansão do Modernismo no Brasil. São apresentadas cartas trocadas entre Mário e Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Di Cavalcanti, Enrico Bianco, Cícero Dias e Victor Brecheret. O foco da exposição está nas Artes Plásticas e são apresentadas também cartas que se referem ao tema na correspondência com Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Henriqueta Lisboa.
Ao longo dos anos Mário de Andrade comprou e recebeu como presente muitas obras de arte, hoje abrigadas no IEB- Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Entre os trabalhos cedidos para a exposição estão: “As Margaridas de Mário” de Anita Malfatti, “Mulher” de Di Cavalcanti, desenhos e aquarelas de Cícero Dias, Ismael Nery, Portinari, Segall, Zina Aita e Augusto Rodrigues. O principal destaque são os dois retratos do escritor realizados por Portinari e Enrico Bianco. Pertencentes a outras coleções há as obras como a “Menina do Circo”, de Di Cavalcanti, e “O Violinista”, de Portinari.
Devido à sua fragilidade as cartas serão apresentada sob forma de fac-símile. Considerando também a dificuldade de compreensão da caligrafia antiga, parte delas foi transcrita e impressa para facilitar a leitura. Parte das cartas foi gravada pelo ator João Paulo Lorénzon, sendo este material apresentado em fones de ouvido. (O que estende a abrangência da mostra aos deficientes visuais). A exposição é complementada por uma cronologia de Mário de Andrade e um vídeo que contextualiza aquele período para o público, através de fotos de época. Há ainda uma instalação interativa que recompõe cartas de Mário de Andrade.
Serviço:
MÁRIO DE ANDRADE – CARTAS DO MODERNISMO
Local: Museu Nacional dos Correios
Endereço: Setor Comercial Sul
Quadra 04, Bloco “A”, Edifício Apolo, nº 256
Brasília/DF
Data: de 30 de outubro de 2014, às 19h à 4 de janeiro de 2015.
Visitação: terça a sexta, das 10h às 19h
Sábados, domingos e feriados, das 12h às 18h.
Entrada franca.
Classificação etária: livre.
O Museu está próximo a estacionamento amplo, pouco utilizado após às 17h e em dias sem expediente comercial. Equipe de segurança bem treinada esta à disposição para recepcionar os visitantes. E na galeria, material impresso e monitores auxiliam os visitantes interessados em mais informações.
Cartas Selecionadas - Trechos
Anita Malfatti
Anita Malfatti foi a artista em torno da qual foram criadas as fileiras do Modernismo. Amiga de Mário por toda a vida ela sofreu muito quando ele passou a rejeitar o seu trabalho porque não se inscrevia no ideário brasileiro que ele pregava. A correspondência entre eles é muito grande e se estende de 1921 a 1939.
De Mário para Anita
São Paulo, 01 de dezembro de 1924
“Anita do coração, estou pra te escrever faz dias dando-te os parabéns pela tua aceitação no Salão de Outono. Fiquei contentíssimo e consegui notícias no Jornal do Comércio e Correio Paulistano. No Estado não posso chegar. Inimigos. Mas soube pela tua mãe que reproduziram a notícia. Ainda bem. Apareceu alguma crítica? Também é tanta gente a concorrer ao Salão!... E teus quadros ficaram bem colocados? Morri de desejo de vê-los. E a estátua do Brecheret? Aquele animal não há meio de me escrever nem um alinha. Estou danado com ele. Por que não pede pra noiva, não? Quem tem uma noivinha boa como me dizem que é a dele, pode pedir a ela que escreva. Depois bota um abraço em baixo e pronto. Vi a fotografia da Porteuse de Parfums. Achei-a lindíssima. Que equilíbrio e que construção! Morri de desejos de vê-la também. Vivo morrendo por causa de vocês. Que amigos assassinos, puxa! Brecheret ao menos mandou fotografias. E tu nem isso! Pois si já me contaste que as fotografias foram tiradas, por que se fazer de rogada agora? Manda as fotografias incontinenti senão me zango de verdade.”
De Anita para Mário
25 de Fevereiro de 1955
Em 1955, por ocasião dos dez anos da morte de Mário, o jornal Diário de São Paulo encomendou à Anita Malfatti uma carta a ele. O texto diz muito da São Paulo dos anos 1950 e deixa entrever a delicada dimensão do sentimento de Anita por Mário.
“Já sei que você deve ter estranhado muito ter passado dez anos sem notícias minhas. Não foi por falta de lembrança, muito ao contrário, foi por falta de iniciativa.(...) Você está bem, tão remoçado que parece um adolescente sábio, isto é, um poeta hoje sábio, que já sabe o que não sabemos, e perenemente jovem como seu espírito sempre foi, e alegre, e feliz, sem a dúvida que mata os homens desta nossa triste Paulicéia, que hoje não é mais desvairada, mas, sim, avoada, cheia de arranha-céus, de viadutos, de dois para três milhões de gente que brotaram não sei de onde. Tudo se movimenta, tudo trabalha, tudo faz barulho, a ambição se condensa por cima dos homens e das casas numa nuvem feita como um cogumelo que parece bomba atômica. Não sei ainda os efeitos desta coisa tremenda, que, em pequenas doses, vitaliza e dá energia às pessoas, ao trabalho e às coisas, mas em grande escala, assim como em São Paulo, pode ser terrível. (...) Depois que você partiu, inventaram o Ibirapuera, o Parque das Exposições, uma verdadeira festa de coisas que se podem mostrar para os outros. A arquitetura dos grandes prédios com seus planos inclinados enormes, com espaços simples e maravilhosos, foi o que mais me surpreendeu e encantou. A pintura moderna se manifesta em toda a linha. (...) Alguns de seus amigos ficaram célebres como pintores, como escultores, músicos e escritores! (...) Tenho medo de ter desapontado a você. Quando se espera tanto de um amigo, este fica assustado, pois sabe que por nós mesmos nada podemos fazer e ficamos querendo, querendo ser grandes artistas e tristes de ficarmos aquém da expectativa. Procurei todas as técnicas e voltei à simplicidade, diretamente, não sou mais moderna nem antiga, mas escrevo e pinto, o que me encanta. Escrevo pois para você, grande e querido amigo, ai se eu pudesse consolá-lo, quanta felicidade para todos nós.
Tarsila do Amaral
Mário de Andrade era apaixonado pela obra - e pela própria Tarsila. A artista viajava constantemente a Paris onde vivia por longos períodos e era acompanhada por Oswald de Andrade com quem tinha uma relação intensa. Mário sempre defendia o Brasil e insistia para que Tarsila ficasse aqui mais tempo. Isso só iria acontecer, entretanto, com a crise do café em 1929, e com a separação de Tarsila. Mas a artista continuaria a considera-lo apenas um grande amigo.
De Mário para Tarsila
11 de janeiro de 1923
“Se é mesmo verdade que os gregos e os romanos tratavam seus deuses com familiaridade amiga, creio que foi o cristianismo que trouxe para os homens ocidentais o temor pelas entidades divinas. Aproximo-me temeroso de ti. Creio que és uma deusa: NÊMESIS, senhora do equilíbrio e da medida, inimiga dos excessos. Quando um homem da Terra era demasiado feliz, via crescerem-lhe terras e riquezas, e tinha em torno de si braços, lábios de amor, coroas de glória e alegrias somente, Nêmesis aparecia. Vinha lenta, com seu passo lento, sem rumor. Mas ao homem-da-Terra fugiam-lhe riquezas, alegrias. Perdia amor, glória e riso. És Nêmesis, sem dúvida. Eu era são. Alegre, confiante, corajoso. Mas Nêmesis aproximou-se de mim, com seu passo lento, muito lenta. Depois partiu. Doenças. Cansaços. Desconsolos. Ainda todo o final de dezembro estive de cama. Venho agora da fazenda onde repousei 10 dias. Mas será mesmo Nêmesis? Que és deusa, tenho certeza disso: pelo teu porte, pela tua inteligência, pela tua beleza. Mas a deusa que reprime o excesso dos prazeres? Não creio. Tua recordação só me inunda de alegria e suavidade. És antes um consolo que um pesar. A verdadeira, eterna Nêmesis, são as horas implacáveis que passam dia e noite, dia e noite, sol e escuridão. Estou nos meses da escuridão. Foi a fraqueza que me fez pensar que eras tu Nêmesis. Perdão. Estou a teus pés, de joelhos. Mais uma vez: perdão.”
Cândido Portinari
A correspondência com Portinari foi tão grande que deu origem ao livro: “Mário de Andrade, Portinari amico mio: cartas de Mário de Andrade a Portinari”, com organização, introdução e notas de Annateresa Fabris, publicado em 1995 pela editora Mercado de Letras, Campinas-SP. Portinari pintou um retrato de Mário do qual ele gostava muito. Em carta ao amigo ele compara seu retrato com aquele pintado por Segall.
De Mário para Portinari
25 de março de 1935
“Portinari amico mio,
Já estava assustado com o seu silêncio. Mas tem-se que dar razão aos pintores, que pintam melhor os setes das belezas plásticas que os agás e jotas tão pouco plásticos da escritura. Aqui tudo na mesma. Depois de amanhã dou uma reunião aos amigos e uns professores franceses, pra que venham ver o meu retrato que todos anseiam por ver. Lhe escreverei depois contando os gritos de entusiasmo do pessoal. Todos que aparecem por aqui se assombram com o retrato. Se eu pudesse e houvesse uma boa revista que publicasse tricromias, escrevinhava como o Manuel um ensaio sobre os Meus Dois Pintores, você e o Segall. Mostraria então o que foi pra mim uma revelação, um verdadeiro soco na barriga quando descobri: é que você me revelou o meu lado angélico, ao passo que o Segall me revelou o meu lado diabólico, as tendências más que procuro vencer. Às vezes me paro em frente do seu quadro e fico, fico, fico, não só perdido na beleza da pintura, mas me refortalecendo a mim mesmo. Porque de-fato você mais que ninguém, não apenas percebeu, mas me revelou que eu.... sou bom. Seu quadro me dá confiança em mim, me dá mais vontade de trabalhar, de continuar, é um verdadeiro tônico. Foi um bem enorme que você me fez, palavra. (...)”