Espetáculo
Carcaça sentada no abismo
Livremente inspirado na obra do pintor irlandês Francis Bacon (1909-1992), o espetáculo Carcaça sentada no abismo é resultado de uma intensa pesquisa das possibilidades da representação física de uma criação plástica bidimensional. Trata-se do sexto espetáculo do Dança pequena-grupo de dança contemporânea. É um solo interpretado pelo bailarino Leandro Menezes e dirigido e concebido por Édi Oliveira, coreógrafo e diretor artístico do grupo. O solo apresenta o que o diretor e o intérprete chamam de “personagem bacaniano”, ou seja, uma existência em cena criada a partir dos personagens (seres humanos ou não) existentes na obra do pintor irlandês. Assim como o“personagem baconiano” se manifesta enquanto existência que transita entre o humano, o animal e o grotesco, também o espetáculo não se define como um“espetáculo de dança”, mas sim como uma experiência cênica que transita entre a dança, o teatro físico e a performance.
Para a criação deste solo, Édi Oliveira e Leandro Menezes pesquizaram a fundo a obrado pintor, para a partir de suas impressões elaborar o imaginário do espetáculo. Basearam-se também no livro A lógica da sensação do filósofo Gilles Deleuze, onde este analisa de maneira muito particular a obra de Bacon. Além disso, os dois criadores foram buscar inspiração e referência um pouco mais longe, como no filme Gritos e Sussurros, de Ingmar Bergman, e no conto Perfil de Humano de Mario Vargas Llosa.
Bacon, um dos expoentes máximos da arte do Século XX, pinta sob a perspectiva de uma figuração deformativa: seres humanos, animais e objetos inanimados são torcidos, distorcidos, dilacerados, desfigurados, paralisados, decompostos, contraídos. Parecem estar sempre no paroxismo de suas possibilidades físicas.
Segundo o filósofo francês Gilles Deleuze, em sua Lógica da Sensação, o ser pintado por Bacon está sempre na “zona de indiscernibilidade” entre o humano, o animalesco e o monstruoso. É um ser cujo corpo sem órgãos se esforça para escapar de si mesmo pela boca que grita, pelos orifícios, fluidos, artérias, ossos e até pela própria sombra.
“Presença, presença, esta é a primeira palavra que me vem à frente de um quadro de Bacon” (G. Deleuze). O homem em Bacon é uma “presença”, um corpo intenso, um estar-no-mundo que experiencia a angustia da própria existência. “Foi partindo desta referência que chegamos à construção, no espetáculo Carcaça sentada no abismo, do que chamamos de personagem baconeano.” Diz Édi Oliveira, diretor do espetáculo.
O ser apresentado no espetáculo é a manifestação física do ser indiscernível, a corporificação da carne e das sensações manipuladas pelo pintor. Um personagem que transita entre o homem, o animal e o monstro, expondo uma existência dilatada em um tempo indeterminado e coexistindo com o espaço inominável. Deixando escapar do abismo de si mesmo sensações agudas e submetendo-se ao voyeurismo dos olhos que suportarem vê-lo. Uma existência sem enredo racional, sem narrativa como a concebemos, sem início, meio ou fim, mas existindo apenas, equilibrando-se no breve momento de existência entre o nascimento e a morte.
O personagem baconeano grita, expande-se, espreme-se, dissolve-se, experimenta intensamente a passagem de uma sensação a outra. É agudo, cortante, espasmódico, extremo. É assim que ele existe. Que existiu antes. Que existirá depois do curto momento em que nos é permitido estar diante de sua existência. O espectador em Carcaça sentada no abismo é um “voyeur, um passante, um que espreita”.
Pesquisa
Para chegar à construção do personagem baconeano em Carcaça sentada no abismo, o diretor e coreógrafo Édi Oliveira e o bailarino Leandro Menezes propuseram-se mergulhar em um intenso processo de pesquisa, para descobrir a composição física justa de uma representação do corpo humano na obra de Francis Bacon.
A pesquisa iniciou-se teoricamente na leitura de obras críticas sobre o trabalho do pintor e da observação, análise e estudo das reproduções fotográficas de suas obras em livros e na internet, bem como em documentários biográficos sobre o artista. “Trabalhamos sobre o texto A lógica da sensação do filósofo francês Gilles Deleuze, sob a orientação da filósofa Gigliola Mendes.” Conta Édi.
“O objetivo da pesquisa foi, assim, o de encontrar a respiração, a voz, a maneira de se locomover, de se mover, de olhar, de se fazer presente de um corpo que manifestasse as mesmas características encontradas nos corpos que habitam as telas do pintor irlandês. No entanto, logo de início percebemos que todo material e vocabulário de movimentação com que estávamos habituados a trabalhar não seriam suficientesnem adequados para tal objetivo.” Revela o diretor.
Para o bailarino e para o coreógrafo, o personagem baconeano exigia movimentos específicos, próprios de um corpo em estado sempre extremo, e mais, exigia uma nova compreensão do tempo, da colocação no espaço e uma abertura estética que não se encontravam em códigos já tão trabalhados pela dança contemporânea. “Ele necessitava ser encontrado, inventado, e não simplesmente reproduzido por movimentos já desgastados pelo uso.”
Para que o produto físico resultante da pesquisa fosse sincero e coerente com a carne e aos satura que Bacon propõe em seus quadros, bailarino e diretor decidiram abandonar suas maneiras de trabalhar o movimento, já tão assimilada pela experiência. “Era preciso colocar o corpo em outros estados – em estado de risco – em situações inabituais, movendo-se a partir de estímulos inusitados. Deste modo trabalhamos a possibilidade do corpo com partes amputadas ou paralisadas, do corpo retorcido, deformado, derretido. Buscamos exaustivamente as possibilidades vocais e sonoras desse corpo; o seu olhar ensimesmado, perdido no universo interior; sua psicologia abstrata e irracional.” Revela Leonardo Menezes, interprete que assina a coreografia com Édi Oliveira.
Experimentaram a dilatação do tempo do movimento, interrompida por espamos violentos e contrações duradouras. Colocando o corpo em situações extremas e opostas: da violência à languidez, da letargiaà excitação, da neutralidade ao excesso, do abismo interior ao descontrole externo dos membros. Criando um homem que manifesta sua animalidade e sua monstruosidade, que aceita existir sem fatalidade, apenas experimentando sensações, com a simplicidade que tem um animal para apenas ser, apenas“estar-no-mundo”.
O personagem está, assim como o que habita a obra baconeana, isolado no espaço pelo círculo, e do mesmo modo sua existência é circular, em um momento no tempo que se encontra entre sua existência de antes e a de depois. Também como em Bacon, o homem de Carcaça sentada no abismo não está inserido em uma narrativa como concebida normalmente, mas em uma narrativa irracional, ilógica, onde um momento não explica o outro, onde não há história a contar e onde a noção de começo, meio e fim são diluídas.
Local: Teatro Goldoni - Casad'Itália, EQS 208/209 Sul.
Data: 23 a 28 de Outubro de 2012
Hora: Terça a Sábado às 21h e Domingo às 20h.
Ingressos:R$ 10,00 (meia) / R$ 20,00 (inteira)
Informações: 3224-0016 / 32251266
Classificação: 18 anos.
Ficha Técnica
Concepção e direção: Édi Oliveira
Coreografia: Édi Oliveira e Leandro Menezes
Assistencia de direção: Shirley Farias
Interpretação: Leandro Menezes
Orientação teórico-filosófica: Gigliola Mendes
Iluminação: Marcelo Augusto
Montagem de Trilha: Quizzik
Cenografia: Ivan Chagas
Figurino: Édi Oliveira
Produção: Naná Maris
Dança Pequena - grupo de dança contemporânea
O Dança Pequena – Grupo de Dança Contemporânea surgiu em 2000 , do encontro de Édi Oliveira (bailarino,coreógrafo e diretor artístico do grupo) e de Fabiana Garcez (intérprete) para a realização do espetáculo O CORAÇÃO TEM SUA MEMÓRIA (2001). Em seguida, o grupo realizou os espetáculos TENHAM OLHOS SÓ PARA MIM (2005), SOM LIDO NO SOLO DO SOL (2006), solo concebido e interpretado por Édi Oliveira, O ESPAÇO ENTRE ROSA E AZUL (2009), solo sobre identidade sexual e PERFUME DE AÇOUGUE: homopornografia/homoerotismo (2010). Os cinco espetáculos foram apresentados no FESTIVAL INTERNACIONAL DA NOVADANÇA (Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo) em 2004, 2006, 2007, 2009 e 2011, respectivamente. Além destes, o grupo realizou o duo A GENTE SÓ TOCA EMOÇÃO (2005), e o solo TARTE TATIN interpretado por Fabiana Garcez.
O Dança Pequena busca , através de uma movimentação econômica e simples, chegar à construção de uma dança onde excessos e ações inúteis são eliminados, para tratar de assuntos pertinentes ao universo das relações e emoções humanas, além de temas que inquietam a sociedade atual . O que se pretende é fugir do virtuosismo gratuito e dos exageros estéticos, enfatizando a força dramática de movimentos simples , o lirismo de imagens cotidianas ou metafóricas e o poderde informação de ações purificadas . Assim, sentimentos e emoções serão sugeridos ao público através de cenas construídas com simplicidade , poesia e introspecção, desprovidas da pretensa imposição das imagens de sentido único.
A cada nova montagem o grupo conta com a participação de artistas locais convidados que contribuem com a cenografia, figurino, trilha sonora, etc., permitindo uma rica troca entre estes mesmos artistas e o grupo, que sempre primou pelo intercâmbio com jovens nomes da arte de Brasília, como o DJ Quizzik, o arquiteto Roberto Carril, o artista gráfico Jorge Verlindo, entre outros.
Édi Oliveira
Coreógrafo, Intérprete e Professor de Dança Contemporânea
Bailarino e Bacharel em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília, onde iniciou seus contatos com a dança contemporânea tendo estudado com Luís Mendonça, Márcia Duarte, Giselle Rodrigues, Lenora Lobo , Eliana Carneiro e Hugo Rodas.
Fez cursos de dança moderna e contemporânea, contato e improvisação, improvisação, ballet clássico , flexibilidade, alongamento, kung-fu e integral bambu. Participou de Workshops com o norte americano Howard Sonenklar (1997) e com os espanhois Jordi Cortez Molina e Damian Muñoz, ambos em 2004.
Em 1996 integrou a AntiStatus Quo Companhia de Dança, dirigida por Luciana Lara e participou dos seguintes espetáculos do grupo: “No Instante” (1996/1997) e “Nada Pessoal” (1998/1999) .
Coreografoue interpretou o espetáculo “Olhar de Míope” (1998), dirigido por Lenora Lobo. Participou do festival “ Resolution ! ”organizado pelo “The Place Theatre” em Londres, em 1998 e 1999.
Como ator integrou o elenco de “Esperando Godot” (1999), montagem de Hugo Rodas.
Hoje integra o BaSiraH - Núcleo de Dança Contemporânea, onde dançou os espetáculos “O Homem na Parede” (1999), “Profundo Dia Azul” (1999), “Monólogosde Dois” (1999), “Sebastião” (2000), “Técnicas Românticas para se Desafogar Alguém” (2001), “Eu só Existo Quando Ninguém me Olha” (2004), “2” (2008)e “De água e sal” (2008), e integra também o Dança Pequena – Grupo de dança Contemporânea do qual é diretor artístico, coreógrafo e intérprete e para oqual coreografou os espetáculos “O Coração tem sua Memória” (2001), “Tenham olhos só para mim” (2004), “Som lido no sono do sol” (2006), “O espaço entre rosa e azul” (2009) e “Perfume de Açougue” (2010), os cinco espetáculos foram apresentados no FESTIVAL INTERNACIONAL DA NOVADANÇA (Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo) em 2004, 2006, 2007, 2009 e 2010, respectivamente. Ainda neste grupo dirigiu e coreografou as performances “A gente só toca emoção” e “Tarte Tatin”, ambas em 2006.
Em 2008 coreografou o espetáculo “Rainha” para o Margarida grupo de dança e em 2009 dirigiu e colaborou coreograficamente para o espetáculo de circo e teatro “Tecendo fios d'éter” da Companhia Fios de Éter.
Em 2010 participou como intéprete no espetáculo infantil “Chopin para crainças”, realizado pelo projeto “Concerto para crianças”.
Participou como intérprete dos curta-metragens “Pequena paisagem do meu jardim” (2006), filme dirigido por Bruno Torres, “Retina” (2009), filme do Margarida grupo de dança, dirigido por Laura Virgínia e “Mosaico” (2010), dirigido pela cineasta Micheline Santiago.
Édi Oliveira foi laureado com a bolsa para artistas Unesco-Aschberg em 1999, o que lhe permitiu residir e estagiar durante dois meses no Centre Nacional de Danse Contemporaine d'Angers (CNDC l’Esquisse) – França em 2000, e em 2010 foi laureado com bolsa de residência artística ofertada pelo Ministério francês das relações exteriores o que lhe permitiu residir e desenvolver pesquisa coreográfica no Centre International d'accueil et d'échanges des Récollets em Paris, França, no mesmo ano.
Ministrou aulas de dança contemporânea no Núcleo de Dança da UNB de 2001 a 2007, no Espaço baSiraH de 2007 a 2009, no espaço Circo Íntimo, da Trupe Circo Íntimo em 2010 e atualmente ministra suas aulas no espaço No Ato Produções.
Leandro Menezes
Ator, Diretor e Bailarino
Formado em Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília, e pós-graduado em Direção Teatral pela Faculdade Dulcina de Moraes. Atualmente é professor da Universidade Aberta do Brasil - UnB.
Bailarino da AntiStatusQuo Cia de Dança, onde dançou os espetáculo Cidade em Plano (2006), Autor retrato dinâmico(2009), Exposição Performática (2009) e as intervenções Jamais Seremos os Mesmos (2009-2012). Com o grupo Dança Pequena dançou no espetáculo Perfume de Açougue (2010) e estreia o novo trabalho Carcaça Sentada no Abismo (2012). Participou do projeto CoLABoratório do Festival Panorama de Dança.
Como ator participa do Coletivo Irmãos Guimarães onde atua nos projetos Beckett - Resta Pouco a Dizer(2010), OFF ON (2011), Manoel de Barros (Projeto NADA), Teatro Visual (Ocupação Funarte) e Primeiro Nome (parceria com a CIA do Autônomo - RJ).
Atuou em espetáculos com direção de Fernando Villar, Hugo Rodas, Adriana Lodi entre outros.
Atualmente dedica-se a uma pesquisa pessoal da relação Corpo/Obra/Criação com enfoque no Corpo-em-Risco.
Livremente inspirado na obra do pintor irlandês Francis Bacon (1909-1992), o espetáculo Carcaça sentada no abismo é resultado de uma intensa pesquisa das possibilidades da representação física de uma criação plástica bidimensional. Trata-se do sexto espetáculo do Dança pequena-grupo de dança contemporânea. É um solo interpretado pelo bailarino Leandro Menezes e dirigido e concebido por Édi Oliveira, coreógrafo e diretor artístico do grupo. O solo apresenta o que o diretor e o intérprete chamam de “personagem bacaniano”, ou seja, uma existência em cena criada a partir dos personagens (seres humanos ou não) existentes na obra do pintor irlandês. Assim como o“personagem baconiano” se manifesta enquanto existência que transita entre o humano, o animal e o grotesco, também o espetáculo não se define como um“espetáculo de dança”, mas sim como uma experiência cênica que transita entre a dança, o teatro físico e a performance.
Para a criação deste solo, Édi Oliveira e Leandro Menezes pesquizaram a fundo a obrado pintor, para a partir de suas impressões elaborar o imaginário do espetáculo. Basearam-se também no livro A lógica da sensação do filósofo Gilles Deleuze, onde este analisa de maneira muito particular a obra de Bacon. Além disso, os dois criadores foram buscar inspiração e referência um pouco mais longe, como no filme Gritos e Sussurros, de Ingmar Bergman, e no conto Perfil de Humano de Mario Vargas Llosa.
Bacon, um dos expoentes máximos da arte do Século XX, pinta sob a perspectiva de uma figuração deformativa: seres humanos, animais e objetos inanimados são torcidos, distorcidos, dilacerados, desfigurados, paralisados, decompostos, contraídos. Parecem estar sempre no paroxismo de suas possibilidades físicas.
Segundo o filósofo francês Gilles Deleuze, em sua Lógica da Sensação, o ser pintado por Bacon está sempre na “zona de indiscernibilidade” entre o humano, o animalesco e o monstruoso. É um ser cujo corpo sem órgãos se esforça para escapar de si mesmo pela boca que grita, pelos orifícios, fluidos, artérias, ossos e até pela própria sombra.
“Presença, presença, esta é a primeira palavra que me vem à frente de um quadro de Bacon” (G. Deleuze). O homem em Bacon é uma “presença”, um corpo intenso, um estar-no-mundo que experiencia a angustia da própria existência. “Foi partindo desta referência que chegamos à construção, no espetáculo Carcaça sentada no abismo, do que chamamos de personagem baconeano.” Diz Édi Oliveira, diretor do espetáculo.
O ser apresentado no espetáculo é a manifestação física do ser indiscernível, a corporificação da carne e das sensações manipuladas pelo pintor. Um personagem que transita entre o homem, o animal e o monstro, expondo uma existência dilatada em um tempo indeterminado e coexistindo com o espaço inominável. Deixando escapar do abismo de si mesmo sensações agudas e submetendo-se ao voyeurismo dos olhos que suportarem vê-lo. Uma existência sem enredo racional, sem narrativa como a concebemos, sem início, meio ou fim, mas existindo apenas, equilibrando-se no breve momento de existência entre o nascimento e a morte.
O personagem baconeano grita, expande-se, espreme-se, dissolve-se, experimenta intensamente a passagem de uma sensação a outra. É agudo, cortante, espasmódico, extremo. É assim que ele existe. Que existiu antes. Que existirá depois do curto momento em que nos é permitido estar diante de sua existência. O espectador em Carcaça sentada no abismo é um “voyeur, um passante, um que espreita”.
Pesquisa
Para chegar à construção do personagem baconeano em Carcaça sentada no abismo, o diretor e coreógrafo Édi Oliveira e o bailarino Leandro Menezes propuseram-se mergulhar em um intenso processo de pesquisa, para descobrir a composição física justa de uma representação do corpo humano na obra de Francis Bacon.
A pesquisa iniciou-se teoricamente na leitura de obras críticas sobre o trabalho do pintor e da observação, análise e estudo das reproduções fotográficas de suas obras em livros e na internet, bem como em documentários biográficos sobre o artista. “Trabalhamos sobre o texto A lógica da sensação do filósofo francês Gilles Deleuze, sob a orientação da filósofa Gigliola Mendes.” Conta Édi.
“O objetivo da pesquisa foi, assim, o de encontrar a respiração, a voz, a maneira de se locomover, de se mover, de olhar, de se fazer presente de um corpo que manifestasse as mesmas características encontradas nos corpos que habitam as telas do pintor irlandês. No entanto, logo de início percebemos que todo material e vocabulário de movimentação com que estávamos habituados a trabalhar não seriam suficientesnem adequados para tal objetivo.” Revela o diretor.
Para o bailarino e para o coreógrafo, o personagem baconeano exigia movimentos específicos, próprios de um corpo em estado sempre extremo, e mais, exigia uma nova compreensão do tempo, da colocação no espaço e uma abertura estética que não se encontravam em códigos já tão trabalhados pela dança contemporânea. “Ele necessitava ser encontrado, inventado, e não simplesmente reproduzido por movimentos já desgastados pelo uso.”
Para que o produto físico resultante da pesquisa fosse sincero e coerente com a carne e aos satura que Bacon propõe em seus quadros, bailarino e diretor decidiram abandonar suas maneiras de trabalhar o movimento, já tão assimilada pela experiência. “Era preciso colocar o corpo em outros estados – em estado de risco – em situações inabituais, movendo-se a partir de estímulos inusitados. Deste modo trabalhamos a possibilidade do corpo com partes amputadas ou paralisadas, do corpo retorcido, deformado, derretido. Buscamos exaustivamente as possibilidades vocais e sonoras desse corpo; o seu olhar ensimesmado, perdido no universo interior; sua psicologia abstrata e irracional.” Revela Leonardo Menezes, interprete que assina a coreografia com Édi Oliveira.
Experimentaram a dilatação do tempo do movimento, interrompida por espamos violentos e contrações duradouras. Colocando o corpo em situações extremas e opostas: da violência à languidez, da letargiaà excitação, da neutralidade ao excesso, do abismo interior ao descontrole externo dos membros. Criando um homem que manifesta sua animalidade e sua monstruosidade, que aceita existir sem fatalidade, apenas experimentando sensações, com a simplicidade que tem um animal para apenas ser, apenas“estar-no-mundo”.
O personagem está, assim como o que habita a obra baconeana, isolado no espaço pelo círculo, e do mesmo modo sua existência é circular, em um momento no tempo que se encontra entre sua existência de antes e a de depois. Também como em Bacon, o homem de Carcaça sentada no abismo não está inserido em uma narrativa como concebida normalmente, mas em uma narrativa irracional, ilógica, onde um momento não explica o outro, onde não há história a contar e onde a noção de começo, meio e fim são diluídas.
Local: Teatro Goldoni - Casad'Itália, EQS 208/209 Sul.
Data: 23 a 28 de Outubro de 2012
Hora: Terça a Sábado às 21h e Domingo às 20h.
Ingressos:R$ 10,00 (meia) / R$ 20,00 (inteira)
Informações: 3224-0016 / 32251266
Classificação: 18 anos.
Ficha Técnica
Concepção e direção: Édi Oliveira
Coreografia: Édi Oliveira e Leandro Menezes
Assistencia de direção: Shirley Farias
Interpretação: Leandro Menezes
Orientação teórico-filosófica: Gigliola Mendes
Iluminação: Marcelo Augusto
Montagem de Trilha: Quizzik
Cenografia: Ivan Chagas
Figurino: Édi Oliveira
Produção: Naná Maris
Dança Pequena - grupo de dança contemporânea
O Dança Pequena – Grupo de Dança Contemporânea surgiu em 2000 , do encontro de Édi Oliveira (bailarino,coreógrafo e diretor artístico do grupo) e de Fabiana Garcez (intérprete) para a realização do espetáculo O CORAÇÃO TEM SUA MEMÓRIA (2001). Em seguida, o grupo realizou os espetáculos TENHAM OLHOS SÓ PARA MIM (2005), SOM LIDO NO SOLO DO SOL (2006), solo concebido e interpretado por Édi Oliveira, O ESPAÇO ENTRE ROSA E AZUL (2009), solo sobre identidade sexual e PERFUME DE AÇOUGUE: homopornografia/homoerotismo (2010). Os cinco espetáculos foram apresentados no FESTIVAL INTERNACIONAL DA NOVADANÇA (Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo) em 2004, 2006, 2007, 2009 e 2011, respectivamente. Além destes, o grupo realizou o duo A GENTE SÓ TOCA EMOÇÃO (2005), e o solo TARTE TATIN interpretado por Fabiana Garcez.
O Dança Pequena busca , através de uma movimentação econômica e simples, chegar à construção de uma dança onde excessos e ações inúteis são eliminados, para tratar de assuntos pertinentes ao universo das relações e emoções humanas, além de temas que inquietam a sociedade atual . O que se pretende é fugir do virtuosismo gratuito e dos exageros estéticos, enfatizando a força dramática de movimentos simples , o lirismo de imagens cotidianas ou metafóricas e o poderde informação de ações purificadas . Assim, sentimentos e emoções serão sugeridos ao público através de cenas construídas com simplicidade , poesia e introspecção, desprovidas da pretensa imposição das imagens de sentido único.
A cada nova montagem o grupo conta com a participação de artistas locais convidados que contribuem com a cenografia, figurino, trilha sonora, etc., permitindo uma rica troca entre estes mesmos artistas e o grupo, que sempre primou pelo intercâmbio com jovens nomes da arte de Brasília, como o DJ Quizzik, o arquiteto Roberto Carril, o artista gráfico Jorge Verlindo, entre outros.
Édi Oliveira
Coreógrafo, Intérprete e Professor de Dança Contemporânea
Bailarino e Bacharel em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília, onde iniciou seus contatos com a dança contemporânea tendo estudado com Luís Mendonça, Márcia Duarte, Giselle Rodrigues, Lenora Lobo , Eliana Carneiro e Hugo Rodas.
Fez cursos de dança moderna e contemporânea, contato e improvisação, improvisação, ballet clássico , flexibilidade, alongamento, kung-fu e integral bambu. Participou de Workshops com o norte americano Howard Sonenklar (1997) e com os espanhois Jordi Cortez Molina e Damian Muñoz, ambos em 2004.
Em 1996 integrou a AntiStatus Quo Companhia de Dança, dirigida por Luciana Lara e participou dos seguintes espetáculos do grupo: “No Instante” (1996/1997) e “Nada Pessoal” (1998/1999) .
Coreografoue interpretou o espetáculo “Olhar de Míope” (1998), dirigido por Lenora Lobo. Participou do festival “ Resolution ! ”organizado pelo “The Place Theatre” em Londres, em 1998 e 1999.
Como ator integrou o elenco de “Esperando Godot” (1999), montagem de Hugo Rodas.
Hoje integra o BaSiraH - Núcleo de Dança Contemporânea, onde dançou os espetáculos “O Homem na Parede” (1999), “Profundo Dia Azul” (1999), “Monólogosde Dois” (1999), “Sebastião” (2000), “Técnicas Românticas para se Desafogar Alguém” (2001), “Eu só Existo Quando Ninguém me Olha” (2004), “2” (2008)e “De água e sal” (2008), e integra também o Dança Pequena – Grupo de dança Contemporânea do qual é diretor artístico, coreógrafo e intérprete e para oqual coreografou os espetáculos “O Coração tem sua Memória” (2001), “Tenham olhos só para mim” (2004), “Som lido no sono do sol” (2006), “O espaço entre rosa e azul” (2009) e “Perfume de Açougue” (2010), os cinco espetáculos foram apresentados no FESTIVAL INTERNACIONAL DA NOVADANÇA (Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo) em 2004, 2006, 2007, 2009 e 2010, respectivamente. Ainda neste grupo dirigiu e coreografou as performances “A gente só toca emoção” e “Tarte Tatin”, ambas em 2006.
Em 2008 coreografou o espetáculo “Rainha” para o Margarida grupo de dança e em 2009 dirigiu e colaborou coreograficamente para o espetáculo de circo e teatro “Tecendo fios d'éter” da Companhia Fios de Éter.
Em 2010 participou como intéprete no espetáculo infantil “Chopin para crainças”, realizado pelo projeto “Concerto para crianças”.
Participou como intérprete dos curta-metragens “Pequena paisagem do meu jardim” (2006), filme dirigido por Bruno Torres, “Retina” (2009), filme do Margarida grupo de dança, dirigido por Laura Virgínia e “Mosaico” (2010), dirigido pela cineasta Micheline Santiago.
Édi Oliveira foi laureado com a bolsa para artistas Unesco-Aschberg em 1999, o que lhe permitiu residir e estagiar durante dois meses no Centre Nacional de Danse Contemporaine d'Angers (CNDC l’Esquisse) – França em 2000, e em 2010 foi laureado com bolsa de residência artística ofertada pelo Ministério francês das relações exteriores o que lhe permitiu residir e desenvolver pesquisa coreográfica no Centre International d'accueil et d'échanges des Récollets em Paris, França, no mesmo ano.
Ministrou aulas de dança contemporânea no Núcleo de Dança da UNB de 2001 a 2007, no Espaço baSiraH de 2007 a 2009, no espaço Circo Íntimo, da Trupe Circo Íntimo em 2010 e atualmente ministra suas aulas no espaço No Ato Produções.
Leandro Menezes
Ator, Diretor e Bailarino
Formado em Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília, e pós-graduado em Direção Teatral pela Faculdade Dulcina de Moraes. Atualmente é professor da Universidade Aberta do Brasil - UnB.
Bailarino da AntiStatusQuo Cia de Dança, onde dançou os espetáculo Cidade em Plano (2006), Autor retrato dinâmico(2009), Exposição Performática (2009) e as intervenções Jamais Seremos os Mesmos (2009-2012). Com o grupo Dança Pequena dançou no espetáculo Perfume de Açougue (2010) e estreia o novo trabalho Carcaça Sentada no Abismo (2012). Participou do projeto CoLABoratório do Festival Panorama de Dança.
Como ator participa do Coletivo Irmãos Guimarães onde atua nos projetos Beckett - Resta Pouco a Dizer(2010), OFF ON (2011), Manoel de Barros (Projeto NADA), Teatro Visual (Ocupação Funarte) e Primeiro Nome (parceria com a CIA do Autônomo - RJ).
Atuou em espetáculos com direção de Fernando Villar, Hugo Rodas, Adriana Lodi entre outros.
Atualmente dedica-se a uma pesquisa pessoal da relação Corpo/Obra/Criação com enfoque no Corpo-em-Risco.